Ouça agora | A Zélia sofreu um acidente com um livro (o episódio de hoje inclui uma cena arrepiante) — e eu ponho-me a falar de terraplanismo linguístico. A meio do episódio, o meu filho Simão tenta imitar (sem querer) a mãe.
Olá, Marco. Como manter o português do Brasil próximo do português de Portugal, se boa parte dos portugueses insiste em dizer que falamos brasileiro, sendo assim xenófobos do ponto de vista linguístico, como já apontou o próprio Marcos Bagno? Ilusofonia :)
Olá! :) Ainda há poucos dias comentava com a Zélia que só os portugueses dizem "brasileiro". Nem Marcos Bagno, que defende que já existe uma separação real, chama à sua língua "brasileiro". Por isso, sim, concordo consigo, embora esteja convencido de que não se trata de xenofobia em muitos casos, apenas dificuldade em lidar com a variação linguística em geral (mas não tenho grandes certezas).
Pois é, ao distinguir, os próprios portugueses já começaram a separação. Me custa a acreditar que seja dificuldade em lidar, sobretudo por consumirem tanto a cultura brasileira (o contrário infelizmente não acontece tanto). Em muitos casos, sequer existe a compreensão do que é variante linguística. A língua segue sendo instrumento de poder nessa relação. Nesse sentido e como imigrante brasileira em Portugal há cinco anos, reforço o caráter da xenofobia, acredito menos na lusofonia (com muitíssimo pesar) e torço para uma apropriação em torno da língua brasileira, conforme o título do livro do Sérgio Rodrigues.
Provavelmente, daqui a muitos anos (ou não), as línguas vão divergir. E não haverá qualquer mal, o próprio português já é latim em pó, como cantou Caetano. Tenho muita curiosidade para saber se a língua do Brasil iria incorporar os elementos das línguas gerais extintas a partir do século XVIII...
Gosto da expressão terraplanismo linguístico, foi muito bem achada!
Obrigado! O processo de divergência já está em andamento, mas penso que será lento (e até pode acontecer que volte a haver uma aproximação se houver mais contactos). Afinal, mesmo em relação ao galego, depois de tantos séculos, ainda encontramos tanta coisa comum. Agora, a verdade é que continuaremos a conseguir ler-nos uns aos outros por muito tempo — é pena não aproveitarmos mais.
Sou testemunha desse embate entre a “norma culta “ e a “norma popular “ por aqui . O que vai prevalecer ? O futuro é difícil de prever , mas segundo o linguista norte-americano Steven Roger Fisher daqui a 300 anos o português no Brasil desaparecerá dando lugar a uma espécie de papiamento, resultado da mistura de português , espanhol latino-americano e inglês enquanto o português europeu ficará restrito a poucos falantes e isolado. Observo os jovens aqui falando ou escrevendo já numa espécie de papiamento, por exemplo : “ Vou deletar aquilo que meu dating ( namorado) escreveu “. Eu acredito nessa transformação . Na verdade , o rumo da língua ( evolução , transformação , desaparecimento) será decidido por vários fatores : os jovens , a linguagem na Internet, a força cultural de alguma potência ( hoje Estados Unidos), o empenho dos professores . Mas quem pode prever ?
Olá, Marco. Como manter o português do Brasil próximo do português de Portugal, se boa parte dos portugueses insiste em dizer que falamos brasileiro, sendo assim xenófobos do ponto de vista linguístico, como já apontou o próprio Marcos Bagno? Ilusofonia :)
Olá! :) Ainda há poucos dias comentava com a Zélia que só os portugueses dizem "brasileiro". Nem Marcos Bagno, que defende que já existe uma separação real, chama à sua língua "brasileiro". Por isso, sim, concordo consigo, embora esteja convencido de que não se trata de xenofobia em muitos casos, apenas dificuldade em lidar com a variação linguística em geral (mas não tenho grandes certezas).
Pois é, ao distinguir, os próprios portugueses já começaram a separação. Me custa a acreditar que seja dificuldade em lidar, sobretudo por consumirem tanto a cultura brasileira (o contrário infelizmente não acontece tanto). Em muitos casos, sequer existe a compreensão do que é variante linguística. A língua segue sendo instrumento de poder nessa relação. Nesse sentido e como imigrante brasileira em Portugal há cinco anos, reforço o caráter da xenofobia, acredito menos na lusofonia (com muitíssimo pesar) e torço para uma apropriação em torno da língua brasileira, conforme o título do livro do Sérgio Rodrigues.
Lamento muito a experiência que me relata! Entretanto, podemos ir conversando, apesar de todos estes problemas.
Obrigada pela abertura. As melhoras para a Zélia!
Provavelmente, daqui a muitos anos (ou não), as línguas vão divergir. E não haverá qualquer mal, o próprio português já é latim em pó, como cantou Caetano. Tenho muita curiosidade para saber se a língua do Brasil iria incorporar os elementos das línguas gerais extintas a partir do século XVIII...
Gosto da expressão terraplanismo linguístico, foi muito bem achada!
Obrigado! O processo de divergência já está em andamento, mas penso que será lento (e até pode acontecer que volte a haver uma aproximação se houver mais contactos). Afinal, mesmo em relação ao galego, depois de tantos séculos, ainda encontramos tanta coisa comum. Agora, a verdade é que continuaremos a conseguir ler-nos uns aos outros por muito tempo — é pena não aproveitarmos mais.
Sou testemunha desse embate entre a “norma culta “ e a “norma popular “ por aqui . O que vai prevalecer ? O futuro é difícil de prever , mas segundo o linguista norte-americano Steven Roger Fisher daqui a 300 anos o português no Brasil desaparecerá dando lugar a uma espécie de papiamento, resultado da mistura de português , espanhol latino-americano e inglês enquanto o português europeu ficará restrito a poucos falantes e isolado. Observo os jovens aqui falando ou escrevendo já numa espécie de papiamento, por exemplo : “ Vou deletar aquilo que meu dating ( namorado) escreveu “. Eu acredito nessa transformação . Na verdade , o rumo da língua ( evolução , transformação , desaparecimento) será decidido por vários fatores : os jovens , a linguagem na Internet, a força cultural de alguma potência ( hoje Estados Unidos), o empenho dos professores . Mas quem pode prever ?