3 Comentários
Avatar de User
Avatar de João Baptista

Ainda que as duas hipóteses gizadas pelo Marco sejam interessantes, receio, contudo, que o próprio conceito de “livro de História do futuro” seja algo de impossível.

Um primeiro problema seria o seguinte: para que as pessoas em 1910 pudessem ler o livro “História do século XX”, escrito em 2024 (ou, noutro exemplo, que nós, em 2024, viéssemos a ler um livro sobre a História de 2024 mas escrito em 2100, para o efeito é igual), teria de ser verdade que, para uma qualquer data determinada, eventos situados no seu futuro seriam já verdadeiros nessa data. Ou seja, em 1910 seria já verdade que em 1914 eclodiria a Primeira Guerra Mundial, por exemplo. Caso contrário, não seria possível afirmar que o livro “História do século XX”, escrito em 2024 e que inclui a Primeira Guerra Mundial, fosse um relato fiel do futuro desse 1910. Ou seja, teríamos de admitir um determinismo absoluto. E, se assim é, então não é possível haver dois passados possíveis, um em que não se lê o livro de 2024 e outro em que se lê.

Mas se aceitarmos que o futuro está em aberto e que o passado pode ser mudado, então temos um problema maior: imaginemos que o arquiduque Francisco Fernando da Áustria, em 1913, lia o tal livro “História do século XX”, escrito em 2024. Se o futuro não estiver determinado, então provavelmente ele não se deixaria assassinar em Sarajevo e a Primeira Guerra Mundial não eclodiria, ou pelo menos não teria os contornos que teve e que surgiriam no “História do século XX”, escrito no nosso 2024. Mas então, isso significaria que, em 2024, nunca chegaria a ser escrito o tal livro, pois as condições de possibilidade de ele ser escrito e relatar a Primeira Guerra Mundial, tal como a conhecemos, haviam sido suprimidas em 1913! É o famoso paradoxo do avô: se as viagens no tempo fossem possíveis e se permitissem alterar o passado (e ler um livro sobre o que acontecerá no futuro não pode não alterar esse futuro!), então podia acontecer que um sujeito viajasse para o passado e matasse o seu avô, antes de ele ter conhecido a sua avó. Mas, se tal acontecesse, isso impediria que ele viesse a nascer e, por isso, a viajar para o passado e a fazer isso. Ou seja, se a viagem no tempo ocorreu, então não ocorreu! Logo, é impossível que tivesse ocorrido.

Logo, não parece que essa hipótese de lermos, hoje, um relato do nosso futuro escrito no futuro. Até porque, no momento em que o lêssemos, ele deixaria de ser o nosso futuro. Estamos, tudo o indica, condenados ter de esperar o futuro com uma venda nos olhos…

Expand full comment
Avatar de Alencar Costa

Seu questionamento me parece bastante fictício. Mas é esse mesmo o seu propósito: fazermos um exercício de "reflexão premonitória", se é que essa expressão existe.

De toda formal, se fosse possível saber do futuro através de uma obra literária, histórica, tenho dúvidas de que nossa sociedade, nossos líderes, seriam capazes de levá-la a sério a ponto de poder evitar algumas catástrofes, por exemplo (como o caso de guerras, que vc cita).

Do ponto de vista individual, até acredito que as pessoas poderiam tirar algum proveito do conhecimento de fatos futuros, mas como sociedade, tenho a clara impressão de que nossa organização, como grupo social, é ainda pouco eficiente e pouco emepnhada com o bem coletivo, ao ponto de permitir a adoção de medidas de saúde ou de segurança preventivas.... 😉

Expand full comment
Avatar de Sandra Patrício

Em 1914 não se aperceberam, tal como nós agora não compreendemos o que virá, ainda não o vivemos. Mas nada é predeterminado, embora haja condições idênticas. É um excelente ponto de reflexão.

Expand full comment