Hoje em dia as pessoas estão mais expostas ao inglês mas isso não quer dizer nada em relação a uma suposta superioridade ou facilidade de gramática . Existe a questão do hábito ou tradição . Por exemplo , todo mundo se habituou a escutar rock em inglês, desde pequeno , rock cantado em inglês é algo como ópera cantada em italiano ou narração de futebol em língua latina . Um rock cantado em russo ( pode até ser o melhor rock do mundo ) causa um certo estranhamento . Mas tudo fica dentro desse hábito ou tradição apenas .
Apesar de tudo continuo a achar umas línguas, digamos, melhores do que outras - no sentido da riqueza vocabular. Bastam dois dicionários para me provarem a minha própria teoria.
Em inglês uma palavra, por vezes (quase sempre) significa um número razoável de coisas.
Para não falar na "pobreza" dos tempos dos verbos...
Em português uma coisa é muitas vezes descrita por um número bastante razoável de vocábulos. É uma língua criativa (como talvez o castelhano, o francês, o italiano o sejam) e se formos para o português do Brasil, há o espanto de vocábulos absolutamente criativos e diferentes até dos nossos. Que fazem parte de uma língua. Um escritor ou um tradutor latino têm à sua disposição criativa muitos mais palavras. Enriquecedoras, muitas delas.
As palavras portuguesas também têm muitos significados nos dicionários… E o número de vocábulos nos dicionários ingleses é bastante superior ao das outras línguas (então no Oxford Dictionary…). :) Mas isto quer apenas dizer algo simples: a tradição de lexicografia da língua inglesa é muito forte. Não significa grande coisa em relação ao valor de cada língua.
Um dos argumentos dos defensores da maior riqueza do inglês repetem até o chavão de que o inglês tem acesso ao vocabulário latino, em conjunto com o germânico (“liberty” e “freedom”, por exemplo). Mas, mais uma vez, não me parece que isso signifique que o inglês seja mais expressivo.
Não me repugna nada a ideia de que, em termos objectivos, possa haver línguas melhores do que outras para fins de criação literária. Claro que teremos de acordar no conjunto de critérios que há-de reger essa avaliação.
Supondo que esse conjunto há-de integrar aspectos como o poder expressivo da língua, isto é, a virtualidade de permitir, por um lado, dizer mais coisas sobre o mundo e, por outro lado, de dizer a mesma coisa mas de formas diferentes, e que isso decorra da sua diversidade e riqueza lexical, multiplicidade de tempos verbais, flexibilidade sintáctica, capacidade combinatória, etc. então parece-me não haver obstáculo a que possamos fazer esses juízos comparativos.
Se línguas diferentes permitem, em graus distintos, criar diversos registos de fala, exprimir uma pluralidade de inserções espácio-temporais da acção, permitir formulações de grande precisão e, opostamente, de vagueza, de ambiguidade e de abstracção, entre outros aspectos que agora não me ocorrem, então suponho que haja línguas mais apetrechadas do que outras, que conferem maiores possibilidades expressivas e comunicativas do que outras e, nessa medida, oferecem um instrumento mais rico para a criação literária.
Imaginemos que o português tinha todos os tempos verbais que tem, excepto o pretérito mais-que-perfeito e o futuro do conjuntivo. Seria mais pobre do que é actualmente, pois ofereceria menores possibilidades, ainda que fosse possível exprimir o que esses tempos exprimem por outras vias, mas mais extensas.
Ou imaginemos que o português tinha aquela característica (cuja designação, se houver, desconheço) que tem o inglês de permitir, de forma quase ilimitada, a criação de termos que exprimem propriedades a partir de adjectivos e de substantivos, acrescentando apenas o –ness, seria certamente uma língua melhor do que é enquanto instrumento de criação literária.
Provavelmente umas línguas serão mais ricas nuns aspectos e mais pobres noutros, pelo que a avaliação teria de passar por uma ponderação global, certamente difícil de fazer. Mas, pelo menos teoricamente, parece-me algo plausível.
Hoje em dia as pessoas estão mais expostas ao inglês mas isso não quer dizer nada em relação a uma suposta superioridade ou facilidade de gramática . Existe a questão do hábito ou tradição . Por exemplo , todo mundo se habituou a escutar rock em inglês, desde pequeno , rock cantado em inglês é algo como ópera cantada em italiano ou narração de futebol em língua latina . Um rock cantado em russo ( pode até ser o melhor rock do mundo ) causa um certo estranhamento . Mas tudo fica dentro desse hábito ou tradição apenas .
Apesar de tudo continuo a achar umas línguas, digamos, melhores do que outras - no sentido da riqueza vocabular. Bastam dois dicionários para me provarem a minha própria teoria.
Em inglês uma palavra, por vezes (quase sempre) significa um número razoável de coisas.
Para não falar na "pobreza" dos tempos dos verbos...
Em português uma coisa é muitas vezes descrita por um número bastante razoável de vocábulos. É uma língua criativa (como talvez o castelhano, o francês, o italiano o sejam) e se formos para o português do Brasil, há o espanto de vocábulos absolutamente criativos e diferentes até dos nossos. Que fazem parte de uma língua. Um escritor ou um tradutor latino têm à sua disposição criativa muitos mais palavras. Enriquecedoras, muitas delas.
Carlos Reis
As palavras portuguesas também têm muitos significados nos dicionários… E o número de vocábulos nos dicionários ingleses é bastante superior ao das outras línguas (então no Oxford Dictionary…). :) Mas isto quer apenas dizer algo simples: a tradição de lexicografia da língua inglesa é muito forte. Não significa grande coisa em relação ao valor de cada língua.
Um dos argumentos dos defensores da maior riqueza do inglês repetem até o chavão de que o inglês tem acesso ao vocabulário latino, em conjunto com o germânico (“liberty” e “freedom”, por exemplo). Mas, mais uma vez, não me parece que isso signifique que o inglês seja mais expressivo.
Não me repugna nada a ideia de que, em termos objectivos, possa haver línguas melhores do que outras para fins de criação literária. Claro que teremos de acordar no conjunto de critérios que há-de reger essa avaliação.
Supondo que esse conjunto há-de integrar aspectos como o poder expressivo da língua, isto é, a virtualidade de permitir, por um lado, dizer mais coisas sobre o mundo e, por outro lado, de dizer a mesma coisa mas de formas diferentes, e que isso decorra da sua diversidade e riqueza lexical, multiplicidade de tempos verbais, flexibilidade sintáctica, capacidade combinatória, etc. então parece-me não haver obstáculo a que possamos fazer esses juízos comparativos.
Se línguas diferentes permitem, em graus distintos, criar diversos registos de fala, exprimir uma pluralidade de inserções espácio-temporais da acção, permitir formulações de grande precisão e, opostamente, de vagueza, de ambiguidade e de abstracção, entre outros aspectos que agora não me ocorrem, então suponho que haja línguas mais apetrechadas do que outras, que conferem maiores possibilidades expressivas e comunicativas do que outras e, nessa medida, oferecem um instrumento mais rico para a criação literária.
Imaginemos que o português tinha todos os tempos verbais que tem, excepto o pretérito mais-que-perfeito e o futuro do conjuntivo. Seria mais pobre do que é actualmente, pois ofereceria menores possibilidades, ainda que fosse possível exprimir o que esses tempos exprimem por outras vias, mas mais extensas.
Ou imaginemos que o português tinha aquela característica (cuja designação, se houver, desconheço) que tem o inglês de permitir, de forma quase ilimitada, a criação de termos que exprimem propriedades a partir de adjectivos e de substantivos, acrescentando apenas o –ness, seria certamente uma língua melhor do que é enquanto instrumento de criação literária.
Provavelmente umas línguas serão mais ricas nuns aspectos e mais pobres noutros, pelo que a avaliação teria de passar por uma ponderação global, certamente difícil de fazer. Mas, pelo menos teoricamente, parece-me algo plausível.