Não me admirava que o dia do bacalhau fosse a sexta-feira (nesse caso, seria uma bacalhau-feira). Uma hipótese curiosa seria a de os nomes de alguns dias da semana serem sazonais, como são alguns pratos (o dia da sardinha ali pelo Verão, o dia do cozido mais no Inverno, provavelmente à quinta-feira, ou ao domingo...).
Infelizmente, acho que padeço de glotofobia. Quando foi da pandemia, soube que também sofro de aigmofobia (quer dizer, eu já sabia que tinha a coisa, não sabia era o nome, mas as imagens de injecções eram tão omnipresentes e o tempo disponível era tanto que acabei por pesquisar e encontrar o nome).
Fiquei curioso com a ideia de “sotaque”, quando aplicado a línguas gestuais. Em que é que consiste? Se o sotaque é uma forma característica e diferenciada de falar, de pronunciar determinadas palavras, de modelar certos sons, da prosódia, etc, ou seja, se é um fenómeno que se manifesta somente na oralidade, então como aplicá-lo a uma linguagem que não tem sons?
Será uma forma característica de executar os gestos ou os movimentos que representam as palavras (se é que é assim que as línguas gestuais funcionam, o que na verdade desconheço)? E, se assim é, isso não a aproximaria de diferenças de caligrafia?
A comparação parece-me mais adequada com os sotaques do que com a caligrafia porque os gestos e os movimentos são, de facto, as palavras, não as representam (algo que acontece na escrita). Ou seja, um gesto em língua gestual portuguesa não está a representar uma palavra numa outra língua (o português, por exemplo); é ele próprio a palavra (tal como os sons que emitimos são as palavras).
(É verdade que um gesto pode traduzir uma palavra em português, mas a relação é parecida com a relação entre o português e outra língua; há gestos que traduzem palavras diferentes; ou gestos diferentes que em português são apenas uma palavra.)
Desta forma, o sotaque é a forma característica como os gestos são feitos; por exemplo, um determinado gesto pode ser feito um pouco mais acima no Norte ou ligeiramente mais abaixo no Sul (além de variarem ligeiramente de pessoa para pessoa, como acontece nas línguas orais). Se virmos bem, também é isso que acontece nas línguas orais: as diferenças entre vogais (um exemplo) são, no fundo, diferenças na forma como movimentamos a boca.
Aversão? Antes pelo contrario. Frustração, por não conhecer mais.
Um dia iremos ter um implante no cérebro, que nos permitirá entender as línguas que ouvimos; poderemos falar a nossa e ser directamente entendidos pelos outros.
Eu tenho mais a "glotoatração". Adoro sotaques e tenho uma enorme curiosidade por outras línguas.
Não me admirava que o dia do bacalhau fosse a sexta-feira (nesse caso, seria uma bacalhau-feira). Uma hipótese curiosa seria a de os nomes de alguns dias da semana serem sazonais, como são alguns pratos (o dia da sardinha ali pelo Verão, o dia do cozido mais no Inverno, provavelmente à quinta-feira, ou ao domingo...).
Infelizmente, acho que padeço de glotofobia. Quando foi da pandemia, soube que também sofro de aigmofobia (quer dizer, eu já sabia que tinha a coisa, não sabia era o nome, mas as imagens de injecções eram tão omnipresentes e o tempo disponível era tanto que acabei por pesquisar e encontrar o nome).
Fiquei curioso com a ideia de “sotaque”, quando aplicado a línguas gestuais. Em que é que consiste? Se o sotaque é uma forma característica e diferenciada de falar, de pronunciar determinadas palavras, de modelar certos sons, da prosódia, etc, ou seja, se é um fenómeno que se manifesta somente na oralidade, então como aplicá-lo a uma linguagem que não tem sons?
Será uma forma característica de executar os gestos ou os movimentos que representam as palavras (se é que é assim que as línguas gestuais funcionam, o que na verdade desconheço)? E, se assim é, isso não a aproximaria de diferenças de caligrafia?
Obrigado por mais este episódio!
Olá!
A comparação parece-me mais adequada com os sotaques do que com a caligrafia porque os gestos e os movimentos são, de facto, as palavras, não as representam (algo que acontece na escrita). Ou seja, um gesto em língua gestual portuguesa não está a representar uma palavra numa outra língua (o português, por exemplo); é ele próprio a palavra (tal como os sons que emitimos são as palavras).
(É verdade que um gesto pode traduzir uma palavra em português, mas a relação é parecida com a relação entre o português e outra língua; há gestos que traduzem palavras diferentes; ou gestos diferentes que em português são apenas uma palavra.)
Desta forma, o sotaque é a forma característica como os gestos são feitos; por exemplo, um determinado gesto pode ser feito um pouco mais acima no Norte ou ligeiramente mais abaixo no Sul (além de variarem ligeiramente de pessoa para pessoa, como acontece nas línguas orais). Se virmos bem, também é isso que acontece nas línguas orais: as diferenças entre vogais (um exemplo) são, no fundo, diferenças na forma como movimentamos a boca.
Um abraço e muito obrigado!
Muito obrigado pela esclarecedora resposta. A questão da representação faz a diferença.
Aversão? Antes pelo contrario. Frustração, por não conhecer mais.
Um dia iremos ter um implante no cérebro, que nos permitirá entender as línguas que ouvimos; poderemos falar a nossa e ser directamente entendidos pelos outros.