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jan 29Gostado por Marco Neves

Bom dia. Eu obriguei-me a ler esse livro até ao fim, por um misto de teimosia e curiosidade profissional, e esse erro ainda é quase o menos no meio daquela inanidade toda. Com uma dose reforçada de suspensão da descrença lá se consegue engolir. Mas há outros, talvez menos espectaculares mas não menos essenciais para o avanço da história, que ainda hoje recordo e que na altura puseram seriamente à prova essa minha resolução de ler aquilo até ao fim: a forma como o narrador se vê na obrigação de explicar que o Smart é um carro muito pequeno, que o Bois de Boulogne era uma zona de prostituição, ou que a bandeira da Suíça tem uma cruz, são exemplos que nunca esquecerei. Mas o que mais me fez admirar tanto a lata do autor como a capacidade de engolir dos leitores foi a quantidade de vezes, ao longo do livro, em que uma das personagens rapidamente explica a outra personagem, enquanto fogem de alguém ou perseguem alguém, qualquer coisa que o narrador levou quatro ou cinco páginas a explicar...

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Pois eu gostei muito de ler o Código, quando saiu. Talvez porque não me fixei tanto nas possíveis incongruências, mas mais no envolvimento gerado pelo enredo. Concordo que a existência de um descendente de Cristo nos dias de hoje é risível. Mas, na matemática, a probabilidade não nula para um evento impede-nos de dizer que esse evento nunca pode acontecer. A probabilidade de eu acertar no euromilhões também é infinitesimal, provavelmente idêntica à da existência de descendente de Cristo mas, contudo, eu continuo a apostar semanalmente... E os milhões de milhões continuam a premiar sempre... alguém.

Finalmente, quero também dizer que adoro o que o Buescu escreve. Já li o Bilhete de Identidade e recomendo.

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Se encarado como ficção pura esse aspecto da descendência de Cristo pode ser aceito ( ou perdoado), mesmo diante das possibilidades ou impossibilidades matemáticas . É um livro que considero como sendo “de época “, e seguiu a tendência de então de filmes, séries e livros ( conspirações , templários, etc) mas hoje não acredito que fizesse o sucesso que fez na época . O mundo mudou muito nos últimos anos

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Esse será talvez o erro mais gritante num romance que afirma estar baseado em “factos” que, devidamente analisados, não são sustentados pela evidência. E sim, isto descontando a “licença artística” em prol do enredo.

O problema, fruto do marketing da obra, é que o autor afirma que os documentos citados são reais. Bem, há muita coisa que, sendo real, não é verídica e não se torna tal só porque tem alguns subscritores.

A maioria dos “factos” em que se baseia estão já noutros livros, o mais conhecido será “the holy blood and the holy grail”, cujos autores chegaram a processar Dan Brown...

no próprio filme aparece a “pérola” de que os templários terem participado na conquista de Jerusalém (1098), o que seria impossível já que só foram fundados em 1119...

Outras deturpações incluem que o concílio de Niceia não debateu SE Jesus seria Deus (disso os Cristãos não tinham dúvida) mas sim COMO é que Jesus seria Deus. O assunto não ficou resolvido aí, requereu novos Concílios à medida que apareciam diferentes correntes (monofisismo, arianismo, docetismo, priscilianismo, nestorianismo, etc. etc.) e a votação não foi “rés-vés”, como é sugerido.

A Bíblia, ou melhor, o seu cânone também não foi definido por Constantino e foi alvo de grande debate, especialmente quanto à inclusão ou não do livro da Revelação (Apocalipse, em grego) e os critérios de inclusão foram os possíveis na altura (aceitação generalizada, datação antiga, origem Apostólica - hoje esta última seria mais desafiante, mas o que levou à exclusão dos chamados “apócrifos” foi fundamentalmente a questão da data).

E outros pontos, mas não vale a pena ser exaustivo aqui...

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